HAVAN
REVERDE

A fome é um problema nosso

Por Walter Scheurer em 23/06/2024 às 09:02:07

* O Brasil é um país incrível, que desperdiça o seu potencial assim como desperdiça os seus alimentos. E o direito a uma alimentação segura é o direito mais básico do ser humano. Por isso, entre tantas carências no nosso país, vejo o combate à insegurança alimentar como o mais urgente, o mais necessário.

Os dados mostram uma dura realidade que precisa ser enfrentada. Existem números variados sobre a questão, medidos de diferentes formas, mas todos trazem uma mesma verdade: há dezenas de milhões de brasileiros espalhados por todas as regiões do país sem saber se terão comida suficiente e de qualidade na próxima refeição. Isso tem impactos de todo tipo nessas pessoas, afetando seu desenvolvimento pessoal e cognitivo, gerando problemas econômicos e sociais em diversas áreas, como educação, saúde e produtividade. É um imperativo humanitário acabar com essa mancha em nosso país. E é um imperativo econômico integrar o potencial pleno desses milhões de brasileiros à força produtiva, garantindo uma alimentação segura e de qualidade.

Ao mesmo tempo, estima-se um desperdício anual de cerca de 55 milhões de toneladas de alimentos, desde o campo até a casa do consumidor, o que contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa, representando cerca de 8% a 10% das emissões globais. Atuar no combate à fome não apenas ajuda a mitigar esse desperdício, mas também beneficia a redução do impacto ambiental, ao promover uma abordagem interligada para resolver esses desafios.

Problemas socioeconômicos complexos, como este, demandam esforço coletivo e atuação conjunta de diversos setores. O governo, a filantropia, o setor privado, as organizações não governamentais, a academia e a imprensa são fundamentais para encontrar as melhores soluções. Esses atores trazem recursos, inovação, capilaridade, informação e agilidade à missão.

O engajamento de empresas e indivíduos é crescente, porém ainda é insuficiente para realizar essa transformação. O setor privado cada vez mais entende que a busca por soluções efetivas para a fome em nosso país não é apenas responsabilidade dos governos: esse problema é nosso, e a solução para ele deve contar com a contribuição de todos.

No Pacto Contra a Fome, instituição da qual sou cofundadora e presidente do Conselho, nosso objetivo é erradicar a fome no Brasil de maneira duradoura e eficaz até 2030 e, até 2040, garantir que todas as pessoas estejam bem alimentadas. Nos dedicamos ao entendimento das causas raízes e, sobretudo, das soluções viáveis. Trabalhamos para fomentar a colaboração entre todos os setores, baseando nossas ações em dados e evidências, sempre com uma abordagem suprapartidária. Dialogamos com o governo e a sociedade civil para o fortalecimento de políticas públicas e práticas sociais voltadas à segurança alimentar e à redução do desperdício de alimentos.

Sem dúvida, o governo é quem tem o maior poder de transformação e resolução. E tem atuado. Estamos vendo isso através da distribuição de renda pelo Bolsa Família e outros programas sociais, aliado a um baixo nível de desemprego, o que ajudou a tirar milhões de brasileiros da situação de insegurança alimentar. Medidas como o valor do salário-mínimo e a composição da cesta básica têm impacto direto na mesa dos brasileiros. Mas ainda há milhões de pessoas no Brasil que sofrem algum tipo de insegurança alimentar.

Trago aqui uma reflexão: se somos 64 milhões de brasileiros em algum grau de insegurança alimentar, certamente ao seu lado tem alguém que está nesta situação.

Vejo razão para otimismo se todos estiverem juntos para erradicar esse problema de uma vez por todas. E sim, isso é possível. O otimismo está pautado na força e na dedicação das pessoas que travam essa batalha, na diversidade de iniciativas inteligentes espalhadas pelo Brasil, na quantidade de alimentos que produzimos, na receptividade das lideranças de todas as correntes políticas e todos os setores econômicos, e no uso crescente da inteligência artificial e das novas tecnologias no combate à fome.

É inadmissível que, em 2024, com tantos saberes e tanta inteligência, ainda tenhamos milhões com fome neste país que produz, exporta e joga no lixo toneladas de alimentos todos os dias. O que estamos fazendo? Ou melhor, o que ainda não estamos fazendo?



Fonte: CNN Brasil

Comunicar erro
TO DE FOLGA tour
Aspen GM
Fornaria

Comentários

FRICARNES
Flip Flops